Mesmo com pequenas dimensões, a Islândia, que tem cerca de 360 mil habitantes, pode ter papel central na batalha do planeta contra a Covid-19. O potencial protagonismo deve-se ao trabalho de seus cientistas: o país começou a fazer testes em massa na população para saber mais sobre o coronavírus causador da infecção respiratória. Participam dos testes mesmo pessoas que não têm qualquer sintoma da doença – e algumas das descobertas do experimento já foram compartilhadas com o mundo.
A iniciativa foi da deCODE Genetics, uma empresa privada que se dedica a estudos sobre o genoma humano. Os primeiros testes ocorreram no dia 13 de março, e já no primeiro fim de semana tiveram a participação de mais de mil pessoas. Entre os primeiros voluntários estavam o presidente do país, Guðni Th. Jóhannesson, e a primeira-dama Eliza Reid, um gesto que mostrou o apoio do governo ao projeto desde o início. (Os testes de ambos deram negativo para o coronavírus.)
Kári Stefánsson, fundador e CEO da empresa, conta que idealizou o projeto como forma de ajudar o Hospital Universitário Nacional, o mais importante do país, no combate à pandemia. “Nós temos os equipamentos necessários, um laboratório preparado para estudar vírus e pessoas que são especialistas na área”, disse ele. E a deCODE queria também entender de que forma estavam ocorrendo as mutações do novo coronavírus.
País lidera o número de testes
Uma das descobertas do experimento islandês é que cerca de metade das pessoas que contraem a Covid-19 não apresenta qualquer sintoma da doença. Segundo o site de divulgação científica ZME Science, por um lado, essa informação pode sugerir que o vírus não é tão perigoso quanto se imaginava inicialmente; por outro, ela acende um alerta: o novo coronavírus pode ter se espalhado com muito mais rapidez do que se supunha.
A Islândia é, de longe, o país que, proporcionalmente, mais tem feito teste de coronavírus em sua população. Os cerca de 10 mil testes já realizados equivalem a 26,7 mil para cada milhão de habitantes. Bahrein e Coreia do Sul, dois dos países que mais testes fizeram no mundo, chegaram a 13,9 mil e 6,3 mil para cada milhão de pessoas, respectivamente.
Independentemente do número elevado de testes já registrado, a importância da iniciativa dos cientistas islandeses está igualmente no aprofundamento dos estudos. Para além de identificar se a pessoa foi ou não infectada, o trabalho inclui o estudo genético do vírus, essencial para entender sua disseminação ou para o desenvolvimento de uma vacina. A deCODE Genetics identificou, por exemplo, nada menos que 40 mutações do coronavírus na Islândia. Duas delas chegaram a ser encontradas em uma só pessoa.